terça-feira, novembro 27, 2007

para não dizer que nunca mais postei...

das antigas.


A FARSA

A verdade é que descobri que sou uma farsa. Minha vida é repleta de personagens que não criei, de coisas das quais eu não preciso, de mentiras que sempre sustentei, de paixões que nunca senti, de necessidades falsas, de milhares de pseudoadjetivosobjetossujeitosverbos.
A verdade é que isso nunca me incomodou, embora essa sensação sempre fosse presente em mim, pois não acreditava eu mesmo nas minhas loucuras. Mas ainda sim insisti em construir esses castelos de cartas e neles fiz minha morada, mesmo sabendo da iminência de sua queda, e vivi toda a fortuna que o acaso criou, e sustentei as apostas, e banquei o tolo tantas vezes quanto foi necessário.
A verdade é que eu não presto, eu sempre soube disso e nunca fiz questão de esconder. Infelizmente os outros não acreditaram e buscaram em mim um espelho que nunca pude ser. E eu, mais tolo ainda, me iludi com a imagem sem nem sequer perceber o quanto era frágil não se ser a si mesmo. Talvez seja por isso mesmo que eu não preste.
A verdade é que eu não sei ao certo o quanto sou humano, não mais do que as dores do meu corpo podem me fazer supor, não mais do que os cheiros que emano, e talvez por isso eu brinque com a fragilidade do meu corpo vivendo os excessos que posso. Busco os limites, tomo todos os prazeres que a vida me oferece em múltiplas doses e depois despenco do mais alto apogeu, tal qual Ícaro, porém sem a mesma poesia daquele que o sol buscou. Eu busco coisas menores, mais fúteis, vendo minha alma por meros trocados, sorrisos de piedade.
A verdade é que sou baixo, em mim habitam os piores sentimentos, milhares de loucuras pululam, sinto a insanidade à minha espreita em qualquer esquina e morro de medo dela. Escondo do mundo os meus medos, pois sei que isso seria suficiente para me queimarem no poste, como as bruxas, e também escondo tudo aquilo que não julgo conveniente saberem apenas porque não julgo conveniente saberem, afinal de contas, porque diabos vocês querem saber da minha vida, minha intimidade, meus mais profundos e escondidos sentimentos.
A verdade é que sou poeta, e acredito que todo esse sentimento tem origem nessa maldição que carrego em meu peito -não, em minha mente!-, nesse reinventar a si mesmo o tempo todo, nessa maldita necessidade de sentir o que não se sente apenas porque se sente que é preciso sentir o que não se sente para sentir como se sente aqueles por quem não sentimos, e saber que no fundo tudo isso é só vaidade, que não há um sentido verdadeiro nisso pois é apenas mais outra ilusão, outra loucura para o meu rol.
A verdade é que não acredito em verdades.
A verdade é que isso também é uma farsa.